Não tinha como não comentar meu desfecho literário com H.P. Lovecraft depois dos meus últimos posts contanto como foi minha experiência com os primeiros dois livros, de um total de três, de contos do autor publicados pela Editora Pandorga (que nome ruim, por Crom!).
Não vou ficar me repetindo sobre a experiência com os dois primeiros volumes, os breves relatos estão aqui e aqui contando minha decepção com o Cthulhu e minha positiva surpresa com "A cor que caiu do espaço".
Diferente dos outros dois livros, este último traz apenas um único e longo conto chamado "Sussurros na escuridão".
Este conto foi escrito entre fevereiro e setembro de 1930 e publicado em agosto de 1931 na revista "Weird Tales", a mesma que publicada os contos de Conan, o Bárbaro.
Citando a introdução do conto:
"Em Sussurros na escuridão, Lovecraft insinua mais uma vez sua filosofia de vida e demonstra claramente sua descrença na supremacia humana. Mostra-nos como, quase sempre, seus heróis eruditos são forçados a enfrentar um novo e terrível paradigma. É o habitual, o tranquilo e o previsível sendo arrebatado pelo sobrenatural, deixando o rastro de horror em um mundo onde os seres humano não estão sozinhos".
O conto começa como tudo do Lovecraft — carta, relato, meta-relato, lendas locais, disse-me-disse, fofoca de cidade do interior, etc. Aqui, o professor Wilmarth se envolve numa troca de correspondências com o misterioso Henry Akeley (um aposentado com muito tempo livre e "doidinho do centro" local).
Akeley mora em Vermont, região rural, cheia de florestas escuras, riachos gelados, colinas e fazendas onde se você escuta um porco guinchando pode ser só um porco mesmo ou o som de um ritual ancestral para invocar deuses cósmicos. Nunca se sabe.
Enfim, Akeley escreve cartas cada vez mais paranoicas para Wilmarth, dizendo que existem “seres” no bosque, “coisas” que aparecem à noite, que deixam marcas, vozes sussurradas em tons sinistros e que o estão perseguindo por tentar alertar as pessoas sobre sua existência, pois de todos os seres humanos que viram esses criaturas com os próprios olhos, não sobrou nenhum para contar história.
A maior parte desse conto se passa através de leitura de cartas, um diálogo entre Wilmarth e Akeley. As cartas ficam cada vez mais assustadoras conforme os dois vão trocando informações sobre as estranhas criaturas, até o momento em que estas tentam continuamente isolar Wilmarth em sua fazenda, cortando sua linha de telefone e interceptando suas cartas, para que este pare de divulgar informações sobre elas, até chegar ao ponto de tentarem assassiná-lo todas às noites.
Isso vai ocorrendo até que Akeley recebe uma carta muito estranha de Wilmarth dizendo que ele fez as pazes com as criaturas e que estas o chamaram para visitar seu planeta natal, Yuggoth, que fica ali na borda da galáxia, mais ou menos onde Judas perdeu as botas.
Claro né, quem nunca quis dar um rolê espacial com caranguejos alienígenas com asinhas de morcego?
Ah é, eu esqueci de mencionar, tais seres se parecem com caranguejos alienígenas do tamanho de um homem e que tem asinhas de morcego pequenas que não servem para voar e que falam com uma voz sinistra e quase incompreensível.
Não vou mentir, a escrita de Lovecraft nesse conto e o clima de suspense me pegou, mas me incomodou pra caramba da grande ameaça serem caranguejos-gigantes-com-asinhas-de-morcego. Fica um pouco difícil de levar as coisas a sério desse jeito, mas ok.
Nesse momento da história achei que haveria uma grande reviravolta porque ÓBVIAMENTE que isso seria uma mentira e uma estratégia para atrair Wilmarth até a casa de Akeley e dar um fim nele.
MAS ELE ACEITA A VAI ATÉ LÁ SÓ POR CURIOSIDADE!
Quase desisti do livro nessa hora, mas já tinha ido longe demais pra voltar atrás (grandes cagadas já foram cometidas após alguém dizer essa frase).
Ao chegar na cabana, Wilmarth percebe que as coisas, ÓBVIAMENTE, estão estranhas. Não vou falar mais para entrar em spoilers, mas o final é bem anticlimático.
Não achei a leitura ruim, mas também não recomendo a ninguém.
Na verdade, em retrospectiva não acredito que li mais de 100 páginas de um conto sobre caranguejos espaciais com asinhas de morcego... talvez eu devesse repensar as minhas escolhas de vida.
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