Via de regra, crossovers nas histórias em quadrinhos resultam em histórias de baixa qualidade.
Alguns dos primeiros crossovers foram os famigerados amálgamas entre personagens da Marvel e DC, que resultaram na criação de novos heróis com péssimas histórias e também embates de personagens que foram decididos pela votação popular, na era pré-internet, em que o que ocorria era basicamente um concurso de popularidade.
Raras e louváveis exceções também existem, como o incrível crossover entre a Liga da Justiça e os Vingadores, escrito por Kurt Busiek e com a arte do saudoso George Pérez.
Outra menção honrosa é o crossover entre o Batman e o Predador, publicado por aqui no início da década de 90 pela Editora Abril em três partes. Eu tive a sorte de achar essa trilogia completa em um sebo da minha cidade com um preço muito bom, que sorte a minha!
E o Predador é um personagem muito útil para esse tipo de história porque ele se encaixa bem em praticamente qualquer universo ficcional. Ele é um alienígena de uma raça de caçadores que singra o cosmos em busca de presas que ele considere dignas do seu esforço.
E se o Batman era bom o bastante para tretar com o bichão, o que dizer então do Juiz Dredd? Ou, melhor ainda, um planeta inteiro repleto de juízes prontos para serem caçados?
Pois é exatamente isso que nos é mostrado em Juiz Dredd vs Predador. O caçador interplanetário chega a Mega-City Um e não demora para entrar em confronto com os juízes. A caçada ao caçador mobiliza toda a força policial, incluindo, obviamente, o Juiz Dredd.
Temos uma história redonda e bem contada, com o Predador exterminando um juiz após o outro, porém se ferindo no processo. A cada embate entre ele e os juízes, eles aprendem um pouco mais sobre a criatura, até conseguir feri-lo o suficiente para que ele se entocasse e a caçada final pudesse ser feita com força máxima.
Temos na história uma referência bem legal ao primeiro filme do Predador e conta com uma telepata da Divisão Psi que é parente de Dutch Schaefer, personagem de Arnold Schwarzenegger no primeiro filme da franquia.
No geral, é uma ótima história, apenas o final meio sem sentido deixa um pouco a desejar, porém é apenas um detalhe que não estraga em nada a leitura.
Juiz Dredd vs Predador tem 59 páginas divididas em três capítulos e é escrita por John Wagner, um dos criadores do Juiz Dredd, e lindamente desenhada (se é que assim podemos dizer) por Enrique Alcatena.
O crossover com o Alien, ou melhor, com os Aliens conta com 95 páginas divididas em 4 capítulos e também tem roteiros de John Wagner, porém aqui ele conta com a parceria de Andy Diggle. A arte fica por conta de Henry Flint.
Na segunda história, um bandido fracassado de Mega-City Um, em parceria com outras forças obscuras que serão reveladas ao longo da história, consegue ovos de uma criatura alienígena que ele pretendia usar para rinhas de animais e com isso ganhar um bom dinheiro.
Porém, logicamente, as coisas saem do controle e o Alien fica à solta em Mega-City Um. Primeiro em sua forma jovem e pequena, porém já letal, e evolui rapidamente para a forma adulta e torna-se uma máquina de matar.
Dredd descobre a criatura enquanto interfere em um tiroteio entre bandidos que disputavam o ovo da criatura e rapidamente a coisa escala, com juízes morrendo às dúzias conforme descobrem todas as maneiras nas quais o Alien é versado em matar, até mesmo quando conseguem acertá-lo com as suas pistolas Doutrinadoras, mas tomam um banho de ácido.
Diferentemente da trama com o Predador, aqui além do clima de caçada há também um certo clima de investigação e mistério para saber como os Aliens chegaram à Terra e quem está por trás disso.
Conforme os juízes vão ajudando na investigação, descobre-se que a ameaça é muito maior do que apenas um Alien, que já era ameaça o suficiente.
Toda a corporação dos juízes é envolvida na caçada e na investigação e é bem interessante vê-los reagindo a todo o pandemônio causado pelas criaturas e à interação entre Dredd e os demais juízes, especialmente com a juíza novata Sanchez, recém-formada na academia e já enfrentando um perigo sem precedentes.
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Em suma, ambas as histórias respeitam as mitologias do Juiz Dredd, do Predador e do Alien.
Os três personagens funcionam em perfeita sintonia como se eles de fato habitassem o mesmo universo ficcional.
Esses crossovers são um feijão com arroz bem temperado que não buscam reinventar a roda. De tempos em tempos eu releio essa edição lançada pela Mythos em 2015 e ela fica cada vez melhor.





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