Após mais de 20 anos depois de eu ter lido "O Senhor dos Anéis", finalmente resolvi me aventurar e ler "O Silmarillion", um dos grandes clássicos de John Ronald Reuel Tolkien, aka J.R.R. Tolkien.
O Silmarillion é considerado por muitos uma espécie de Bíblia do Universo Tolkeniano. Além dos mitos da criação de Eä, o mundo onde fica a Terra Média, O Silmarillion, possui paralelos com a Bíblia.
Se na Bíblia cristã Deus fez o verbo, aqui Ilúvatar (o Deus deste universo), logo após criar os primeiros seres, os Ainur, "falou com eles propondo-lhes temas de música; e cantarem diante dele e ele estava contente".
Apesar de não usar a palavra "anjo" em nenhum momento do livro, os Ainur podem ser entendidos como tais. Porém, diferente dos anjos, os Ainur foram mandados para a Terra para dar uma ajeitada nas coisas antes que os Primogênitos, como são conhecidos os Elfos, por serem as primeiras criaturas de Eä a se comunicarem por fala.
Além disso, temos Melkor, depois conhecido como Morgoth, assim nomeado por Fëanor depois do roubo das Silmarils, o mais poderoso dentre os Ainur, pois a ele "tinham sido dados os maiores dons de poder e conhecimentos, e ele tinha um quinhão de todos os dons de seus irmãos".
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| Morgoth/Melkor gerado por IA |
Melkor, antes mesmo do princípio dos tempos, já estava em desacordo com Ilúvatar, algo mais ou menos parecido com Deus e Lúcifer (me desculpe os erros bíblicos, mas faz muito tempo desde a minha catequese) e, em tempos vindouros, tornar-se-ia o grande flagelo de Elfos, Humanos e Anãos, distorcendo as criações de Ilúvatar.
Esse é um resumo bem resumido de O Silmarillion. Mas por que o título dessa resenha é "trocando socos"?
Porque a leitura desse livro é bem difícil e arrastada. Por várias vezes, pulei parágrafos inteiros porque era muito irritante o sem-fim de nomes, pessoas, lugares, eventos que são citados sem parar, especialmente depois de O despertar dos Elfos e as inúmeras divisões entre eles, os Reis e Senhores de lá e cá, e filho de fulaninho de lá de onde Judas perdeu as botas que casou com a fulaninha, filho do beltrano, senhor de Seilaonde, que teve os filhos mariazinha, joãozinho e Enzinho e bla, bla, bla.
A edição da Harper Collins possui um índice de nomes que ajuda demais a lembrar quem é quem e talvez, se não fosse por esse índice, eu teria desistido da leitura.
A coisa toda fica pior ainda quando os humanos despertam (o "despertar" basicamente é isso mesmo, Elfos e Homens não existiam até que *puf*, despertam sem mais nem menos em determinados lugares de Eä e começam a vagar mundão afora), pois multiplicam-se casas, reis, vassalos, cidades, rivalidades, filhos, casamentos, etc.
Ah, sim, uma característica que eu não esperava em O Silmarillion é que o livro é inteiramente narrado em terceira pessoa. Não temos diálogos entre os personagens, a não ser em raros casos em que o narrador cita as falas. Isso torna a leitura ainda mais monótona.
A história vai bem até, como eu mencionei antes, aparecerem os Elfos. Vemos bastante Iluvátar e os Ainur no começo de tudo, as dúvidas e visões que os Ainur tinham para o mundo, seus deveres e responsabilidades, a visão e desígnio de Ilúvatar.
Também são bastante interessantes as histórias de origem dos Orcs, ou melhor, dos "Orques" na tradução da Harper Collins. Aliás, tradução esta que me repeliu anos a fio a comprar a versão desta editora, porém, nunca consegui achar uma edição da Martins Fontes. Mas não há nada que um precinho bem camarada em um Black Friday não resolva.
E, no fim das contas, não me incomodou tanto quanto eu esperava ler "Anãos" (que, fiquei chocado, está certa a grafia e também é o equivalente à grafia adotada por Tolkien no original em inglês para diferenciar os Anões de sua mitologia das pessoas anãs de verdade).
Mas, como eu ia dizendo, a origem dos Orcs é legal, mas melhor ainda é a origem dos Anãos. Essa passagem foi bem marcante e muito vívida na minha imaginação. Porém, não sei se foi uma das partes que eu pulei (acho que não), mas não vi a história de origem dos Hobbits.
Chegando ao final do livro, eles simplesmente estavam lá ignorados em um cantinho do mundo e nunca tinham sido mencionados antes em toda a narrativa, mas parece que tanto Elfos como Humanos e os Istari (os Magos, ou seja, Gandalf, Saruman, Radagast e outros que se espalharam por outros cantos do mundo e "não são citados nessa história"). Destes todos, apenas Gandalf sabia que os Pequeninos estavam destinados a salvar toda a Terra Média.
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| As três Silmarils e o seu criador, o elfo Fëanor |
Outra parte de que gostei bastante foi o último capítulo, "Dos Anéis de Poder e a Terceira Era", onde são narrados acontecimentos de logo antes do começo de O Senhor dos Anéis, durante e logo após a destruição do Um Anel por Frodo e Sam.
Depois dessa parte eu consegui entender melhor o papel dos Anéis forjados por Sauron (ele também era um Ainur, porém de menor grau, conhecido como "Maiar", e tornou-se o principal vassalo de Melkor/Morgoth) para os Homens, Anãos e Elfos, pois no filme e no livro eu não tinha entendido para que valiam se o Um Anel era o mais poderoso.
Em suma, O Silmarillion não é um livro que eu recomendaria a qualquer pessoa. Acredito que é uma leitura mais indicada para quem é muito fã da mitologia e de O Hobbit e O Senhor dos Anéis e quer entender mais sobre esse universo.
Caso você queira apenas ler um bom livro de fantasia, acredito que há outras opções melhores, nas quais a sua leitura não avançará aos "socos" como foi a minha leitura de O Silmarillion.
PS: Esqueci de mencionar outra parte boa do livro, que é quando os humanos questionam por que eles têm que morrer e ir não se sabe para onde, enquanto os Elfos são "imortais" (são imortais apenas em relação a doenças ou velhice) e, quando morrem ou se cansam de viver, partem para uma espécie de vida após a morte. Essa parte é bem interessante e filosófica e os desdobramentos dela vitimam o próprio Sauron, causando (mais uma vez) a perda de seu corpo físico, mas não da sua essência.



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