27/03/2017

[Resenha] Persépolis - Marjane Satrapi

Marjane Satrapi Persépolis Quadrinhos
Ficha Técnica
Editora: Quadrinhos na Cia
Número de páginas: 352
Ano de Publicação: 2007 (atualmente da décima oitava reimpressão)
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Marjane Satrapi, a autora e personagem principal desse livro, era uma menina muita parecida com qualquer outra que você conheceu durante a sua vida. Gostava de ir para o colégio brincar com os amigos, ouvia música pop e punk rock, gostava de tênis Adidas e jaquetas jeans. Isso até ela ser  obrigada a vestir o véu islâmico aos dez anos de idade.

Persépolis não é só uma autobiografia, é uma aula sobre o Irã e uma realidade muita distante da nossa. A história começa antes da revolução islâmica, quando o país vivia sob uma ditadura que tinha o apoio dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, nada muito diferente do que aconteceu na América do Sul e alguns países do Leste Europeu durante a Guerra Fria.

Durante esse período da ditadura, a família da Marjane vivia de forma bastante parecida com uma família brasileira de classe média da mesma época (final dos anos 70). Seus pais eram muito politizados e participavam de protestos contra a ditadura local. Ao custo muito grande de vidas perdidas, conseguiram tirar o ditador do poder, no entanto, acabaram colocando outra coisa pior no poder, a república islâmica.

Após a ascensão ao poder da República Islâmica, as meninas e meninos não podiam mais estudar juntos na mesma sala, a patrulha ideológica do partido vigiava as pessoas na rua, nenhuma mulher poderia sair sem véu e nem poderia estar acompanhada de um homem que não fosse de sua família ou o seu marido, música e roupas ocidentais passaram a ser proibidos. A ditadura anterior não parecia mais tão ruim assim.

Apesar do clima tenso, Persépolis tem uma narrativa leve e divertida em primeira pessoa. A leitura é viciante e te deixa preso querendo saber o que acontecerá a seguir na vida de Marjane, de sua família e do Irã.

Persépolis HQ
Não é?
Em resumo, a história se divide em três períodos: a infância, adolescência e vida adulta de Marjane, que são três fases bem distintas. Quando criança, ela sonhava em ser uma profeta e conversava com Deus. Ao tomar contato com a política, através de sua família, vai entendo o que se passa com o seu país. Depois de uma grande perda na família, ela briga com Deus e para de falar com ele e abandona o seu sonho de ser uma profeta.


Durante a adolescência, a sua fase mais rebelde foi alimentada à base de Sex Pistols, Iron Maiden e Michael Jackson. Inclusive, na tentativa de conseguir comprar uma fita k-7 desses artistas acontece uma das cenas mais tensas e engraçadas da HQ, quando Marjane é encontrada sozinha na rua por mulheres apoiadoras do governo islãmico.

Durante essa sua fase mais rebelde, Marjane é expulsa da sua escola por causa das suas críticas direcionadas ao opressivo governo de seu país. Seus pais, assustados, decidem enviá-la para um país Europeu. Na Europa, Marjane passa por um dos piores momentos da sua vida e conhece a solidão, a depressão, a rejeição e as drogas, até retornar ao seu país, o Irã.

De volta ao Irã, depois da guerra, sente-se uma estrangeira em seu próprio país, se sentindo culpada por ter deixado tudo para trás para ficar sem segurança na Europa.

A arte da HQ é em preto e branco e o traço é simples, porém casa muito bem com a proposta do quadrinho de contar uma história cheia de preconceito, opressão e violência de forma leve e divertida, e cumpre essa proposta com louvor, com uma narrativa dinâmica e que é praticamente uma aula de história. Sem exagero, esse livro poderia ser tranquilamente uma leitura indicada por professores do ensino médio. Seria bem melhor do que fazer adolescentes lerem Machado de Assis (com todo o respeito que o autor merece, e eu gosto muito dele).

Persépolis é uma leitura fácil, envolvente e excepcional. Eu, que nunca imaginei dizer isso, fiquei até com vontade de um dia conhecer o Irã, o seu povo alegre e sofredor (obviamente, não os que apóiam o regime islãmico, mas os que são oprimidos por ele), e sua cultura e gastronomia riquíssimos!).

De uma chance a si mesmo de degustar essa obra!

Nota: 10!

Persépolis O véu
clique para ampliar e poder ler a página

E o filme inspirado em Persépolis?

Logo após de terminar de ler a HQ, fui logo conferir a animação homônima, dirigido pela própria autora-personagem.

A animação é boa, mas como era de se esperar, corta muita coisa em relação aos quadrinhos e, principalmente perde muito do contexto e do desenvolvimento dos personagens coadjuvantes. Muitas situações presentes no livro são encurtadas ou inexistem no filme.

A dica é: assista o filme depois de ler a HQ. E, se você viu a animação sem ter lido a HQ, leia, por com certeza você irá gostar da história completa!

No IMDB, um dos principais sites sobre cinema do mundo, o filme tem nota de 8.1/10, uma ótima avaliação, enquanto que no site metacritic alcançou 90/100 .

Persépolis Punk is not dead
Você nem imagina como ela se livrou dessa situação!
Se você gostou de Persépolis...

você também poderá gostar da HQ "O Árabe do Futuro". Essa obra guarda muitas similaridades com a de Marjane Satrapi. Em ambas temos um autor/personagem que vive imerso em uma cultura islãmica (só que desta vez, o cenário se alterna entre a Líbia e a França), sofrendo as consequências de guerras, tendo forte influência ocidental e, principalmente, tratando tudo com muita leveza e bom humor, enquanto acompanhamos o crescimento do protagonista.

O Árabe do Futuro
A história de Riad Satouff é engraçadíssima e cheia de choques culturais!
O que é Persépolis?

"Persépolis", que em grego quer dizer "cidade dos persas", foi uma das principais cidades do Império Persa e suas ruínas foram declaradas patrimônio da humanidade pela UNESCO.

A cidade de Persépolis foi construída em torno de 515 a.c. e teve o seu declínio em 330 a.c. quando Alexadre, o Grande, invadiu a cidade com o seu exército. Logo após, o exército de Alexandre saqueou a cidade e a mesma foi inteira queimada. Não se sabe se o incêndio foi acidental ou se foi uma vingança contra os Persas por eles terem queimado a Acrópolis de Atenas.

2 comentários:

  1. Tb adoro essa HQ, como já falei anteriormente aqui em seu blogue.

    O traço é bonito, roteiro impecável, franqueza por parte da autora e tema interessantíssimo. Nos mostra, um pouco, como a existência de alguns regimes de exceção servem, por vezes, de muro contra o avanço de perigos sangrentos. Vimos isso recentemente com o Estado Islâmico, quando a gestão Obama fundou essa nação assassina ao retirar, de maneira abrupta, grandes contingentes de tropas americanas do oriente. Hj, vemos que apenas Saddam Hussein sabia manter aqueles povos sob disciplina.

    O apoio ocidental às "primaveras árabes" só gerou mais dor e sofrimento aos povos, antes, sob a jurisdição dos antigos "déspotas".

    Sobre: "A ditadura anterior não parecia mais tão ruim assim.", acho que é assim que o mais cubanos mais velhos se recordam de Fulgencio Batista.

    Abraços!!!

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    Respostas
    1. Neófito, o que você falou sobre o Saddam é verdade! Chega a ser absurdo pensar assim, mas é como eu enxergo a situação.

      Sobre o Fulgencio Batista, pouco sei. Só sei que na escola falavam rapidamente dele. Basicamente, diziam que ele fazia tudo o que o Fidel fazia, só faltava El Paredón, enquanto o Fidel era o salvador da pátria.

      Sobre o Obama, pior que o Bush e provavelmente o Trump vão fazer muito mais pela paz no oriente médio do que ele, mas o Obama é quem será lembrado como o nobel da paz. Lamentável.

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