Ouvi falar muito dessa série do Lanterna Verde como um grande marco nos quadrinhos da DC. Vale ressaltar que a maioria dessas histórias saíram originalmente na revista do Lanterna Verde no comecinho da década de 70 e o Arqueiro Verde era um "convidado especial", servindo de contraponto ao "linha dura" Hal Jordan, que sempre seguiu à risca o cumprimento da lei, preto no branco, enquanto o Arqueiro não ligava muito para as leis, seguindo uma espécie de código ético próprio meio "bicho-grilo", progressista, whatever, chame como quiser.
Como é explicado no texto de abertura no primeiro volume, a sociedade americana passava por profundas transformações sociais no começo da década de 70. O status quo era questionado e a sociedade passou a se preocupar mais fortemente com assuntos como guerras, repressão sexual, abuso de autoridade, drogas e políticos desonestos (sic).
A cultura pop entrou de cabeça nessa "luta". Filmes, novelas, literatura e música. Nessa época, os quadrinhos ainda eram uma literatura (se é que podemos chamá-los assim) rasa, basicamente histórias simplistas do bem contra o mal que se resolviam com alguns sopapos e sempre com o bem vencendo, sem nenhum tipo maior de questionamento ou aprofundamento em relação as atitudes dos personagens, sejam vilões ou heróis.
Aí que entra as histórias do Lanterna Verde e Arqueiro Verde, escritas por Dennis O'Neil e magnificamente ilustrada por Neal Adams (apesar das tramas soarem datadas, a arte de Adams ficou atemporal). Eles começaram a colocar todos esses elementos nas histórias do gladiador esmeralda.
Repentinamente, os personagens estavam debatendo sobre racismo, política, capitalismo, poluição, drogas, questão indígena, entre outros.
Apesar da iniciativa ser louvável e inovadora para a época, as tramas são rasas, tudo se resolve de forma muito simples e os temas, importantíssimos, são abordados de forma enviesada, notadamente puxando a sardinha para a agenda liberal da esquerda dos Estados Unidos, o que não chega a ser um problema, afinal todos têm o direito de crer no que bem entenderem, mas seria muito bom para o debate algum contraponto.
Tomei a liberdade de separar alguns trechos da ótima resenha de um usuário do site Skoob, chamado Marc, sobre a HQ. Eu não poderia colocar em melhores termos. Espero que ele não se importe com a citação.
E você, leitor, o que achou dessa HQ?
Apesar da iniciativa ser louvável e inovadora para a época, as tramas são rasas, tudo se resolve de forma muito simples e os temas, importantíssimos, são abordados de forma enviesada, notadamente puxando a sardinha para a agenda liberal da esquerda dos Estados Unidos, o que não chega a ser um problema, afinal todos têm o direito de crer no que bem entenderem, mas seria muito bom para o debate algum contraponto.
Até mesmo a história do recrutamento do John Stewart, o primeiro lanterna verde negro (isso soa estranho, né?), é rasa e boba, com argumentos mal trabalhados, chega a dar vergonha alheia.
- Leia também: Lendas do Universo DC Liga da Justiça Internacional
Tomei a liberdade de separar alguns trechos da ótima resenha de um usuário do site Skoob, chamado Marc, sobre a HQ. Eu não poderia colocar em melhores termos. Espero que ele não se importe com a citação.
(...)depois de ver tantos comentários positivos (sobre a HQ), fiquei bastante decepcionado. Os motivos são simples: mais importante não era abordar esses temas, a maneira como isso acontecia é que deveria contar (...) Posso comentar, afinal não é segredo para ninguém que o parceiro do Arqueiro Verde é um viciado. A justificativa que ele oferece para a dependência é não apenas ingênua, mas cômica. Na hora pensei que era até brincadeira, o que seria totalmente absurdo numa história tão séria; mas depois percebi que os autores estavam dando sim uma justificativa real para o vício dos jovens. Portanto, antes de sair falando maravilhas dessas histórias, vale a pena observar a maneira como esses temas foram tratados, afinal é isso que define uma boa história.
O segundo motivo é a escolha dos temas. Ora, será que ninguém consegue associar temas como desarmamento, racismo, hipocrisia religiosa e de líderes políticos, a questão de gênero, luta de classes, etc, a uma agenda progressista? Será que ao invés de falar sobre o racismo como uma questão de ódio (basta ver a fala do Lanterna John Stewart), não seria melhor dizer a sociedade americana, que levava tão a serio os valores de integração e respeito estava se desviando de sua predileção e isso iria causar desastres? Será que não havia outros temas para abordar e que tinham tanta ressonância quanto esses na sociedade da época?
Pode parecer implicância, mas logo de início me preparei para ler uma sequência de absurdos liberalóides (veja o sentido da palavra liberal para os americanos) e fui passando as páginas uma depois da outra e vendo as bobagens se sucedendo. Quem sabe o que foram os anos 60 nos EUA, com forte incitação a violência entre raças, que culminou em absurdos como os Panteras Negras e outras organizações, não pode concordar que o tratamento que a revista dá ao tema seja o correto. Embora costume ser lugar comum, advogar em nome das supostas vítimas implica mais do que dizer que um lado bate e outro apanha somente.
O auge é um Jesus socialista e ambientalista que termina crucificado ao lado de nossos amados heróis. Lamentável. Lamentável, mas esperado. Não é novidade para mais ninguém que o progressismo tenta colar em Jesus o rótulo de primeiro socialista da história, ou ao menos o mais influente de sua época. Isso tem uma função inegável de associar o repúdio ao socialismo com a morte de Cristo, como se desde aquela época aqueles que defendessem o igualitarismo e a justiça social fossem apenas os não compreendidos e perseguidos injustamente por uma turba violenta e maldosa. Ou, pior, como se Jesus tivesse vindo ao mundo para combater a pobreza, trazendo uma mensagem que necessariamente se realizaria no mundo material, e somente nele.
Pois é sobre isso que esses quadrinhos estão versando. Imagine um policial espacial, totalmente obediente a seus líderes e que vai se deparando com a “realidade” até não ter mais tanta certeza se não passa de um serviçal do status quo desigual e violento. Dizer que as forças policiais operam contra a população pobre e servem para perpetuar as desigualdades é uma “tese” progressista que fazia muito sucesso na época (e ainda é repetida bovinamente por qualquer aspirante a ditador hoje em dia). Ao mesmo tempo, o Arqueiro surge como um Robin Hood moderno, decidido, inteligente e consciente do mundo verdadeiro que os heróis deveriam proteger.
Para finalizar, vale destacar o bom trabalho que a Panini fez relançando essas HQ's em papel offset, o que deixou a revista mais durável, com o manuseio mais agradável e valorizou a arte de Neal Adams.